segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um Presente do Destino

... O som emanava da pedra.
A pedra não lhe tinha dado nada além de frustração e raiva e, agora, nem o deixava dormir! Ela ignorou seu olhar furioso e ficou imóvel, piando ocasionalmente. Depois, soltou um chiado muito alto e ficou em silêncio. Eragon guardou-a cuidadosamente e voltou para debaixo dos lençóis. Fosse qual fosse o segredo que a pedra guardava, teria de esperar até a manhã seguinte.
A lua brilhava através da janela quando ele acordou de novo. A pedra estava se chacoalhando rapidamente na prateleira, batendo contra a parede. Estava banhada pela fria luz do luar, que deixou sua superfície esbranquiçada. Eragon pulou da cama, faca na mão. Os movimentos pararam, mas ele continuou tenso. Depois, a pedra começou a chiar e a chacoalhar mais rápido do que nunca.
Reclamando, começou a se vestir. Não queria saber o valor que a pedra poderia ter, ele ia levá-la para longe e enterrá-la. A pedra parou de chacoalhar e ficou quieta. Tremulou, depois rolou para a frente e
caiu no chão, produzindo um baque seco. Ele afastou-se em direção à porta, assustado, pois a pedra rolava na sua direção.
De repente uma rachadura apareceu na pedra. Mais outra e outra. Petrificado, Eragon inclinou-se para a frente, ainda segurando a faca. No topo da pedra, onde todas as rachaduras se encontravam, um
pequeno pedaço se mexeu, como se estivesse se equilibrando em cima de alguma coisa, em seguida se ergueu e caiu no chão. Depois de outra série de chiados, uma pequena cabeça escura saiu pelo buraco, seguida de um estranho corpo distorcido. Eragon agarrou a faca com mais força e segurou-a imóvel. Logo, a criatura havia saído completamente da pedra. Ela ficou parada por um momento, depois, agitou-se em direção ao luar.
Eragon recuou, chocado. Em pé, na frente dele, lambendo a membrana que o envolvia, estava um dragão.

O Despertar

O dragão não era maior do que seu antebraço, porém era magnífico e nobre. As escamas dele eram
de um azul-safira forte, da mesma cor da pedra. E ele percebeu que não era uma pedra, era um ovo. O
dragão bateu as asas. Eram elas que fizeram-no parecer tão distorcido.

[...]

Eragon moveu-se um pouco, e a cabeça do dragão virou-se depressa. Firmes olhos azul-claros
fixaram-se nele, que continuou imóvel. Aquele bicho poderia ser um inimigo formidável se resolvesse atacar.
O dragão perdeu o interesse por Eragon e, desajeitado, explorou o quarto, gritando quando batia em
uma parede ou em um móvel. Com um bater das asas, pulou em cima da cama e engatinhou até o
travesseiro, chiando. A boca estava aberta de modo piedoso, como a de um pássaro jovem, exibindo
carreiras de dentes pontudos. Eragon sentou-se cuidadosamente na beira da cama. O dragão cheirou a mão
dele e mordiscou sua manga. Ele puxou o braço para trás.
Um sorriso tomou os lábios de Eragon enquanto olhava para a pequena criatura. Hesitante, esticou o
braço e, com a mão direita, tocou o flanco do animal. Uma explosão de energia gelada entrou pela mão dele
e correu pelo braço, queimando-lhe as veias como fogo líquido. Caiu para trás dando um forte grito. Um
barulho metálico encheu seus ouvidos, e ele ouviu um silencioso grito de fúria. Todas as partes de seu corpo
queimavam de dor. Fez força para se mover, mas não conseguiu. Depois do que pareceram ser horas, o
calor voltou aos seus membros, deixando-os formigantes. Tremendo incontrolavelmente, fez força e pôs-se
de pé. Sua mão estava dormente, e seus dedos, paralisados. Assustado, ele observava o meio da palma de
sua mão brilhar e formar um desenho oval branco e difuso. A pele coçava e queimava como em uma mordida
de aranha. Seu coração batia freneticamente.
Eragon piscou, tentando entender o que havia acontecido. Algo tocava sua consciência como um
dedo passando em cima da pele. Sentiu novamente, mas, desta vez, tomou a forma de uma corrente de
pensamentos, pela qual ele sentia uma curiosidade crescente.

Eragon - Christopher Paolini

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