quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não.

Não tenho nervos de aço, não sou paciente, não gosto de esperar.
Não sei definir, não sei limitar, não sei expandir.
Não sei falar em público, não sei explicar, não sei não falar.
Não sei perdoar, não sei guardar rancor, não sei gostar.
Não sou mandona, não sou boba, não sou infeliz.
Não tenho medo, não tenho ansiedade, não tenho coragem.
Não sei viver sob pressão, não sei ser altruísta, não gosto de dividir.
Não sou exemplar, não sou cartesiana, não sou rotineira.
Não sou amante, não tenho controle, não tenho direção.
Não sou fácil, não sou melhor amiga, não sou incompreensível.
Não confio, não sinto, não gosto.
Não sou metódica.


Me disse do que gostava, que cor de cabelo preferia
Me encaixou no seu perfil e ali entrei, perfeitamente,
Discretamente, ilusoriamente.
Ele pensou que eu vivia em um manicômio
Porém, você nunca entendeu que toda essa loucura
Você causava.
Ele pensou perder-me, eu tive certeza.


"Acho que nem sei quem sou, só sei do que não gosto"

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Pequenas preferências

Sou dúvida, interrogação. Exigo demais, quero demais, forço demais. Quero ter amigos, mais não consigo cativá-los. Quero um amor, mais não consigo amá-lo. Faço de mim cartel de sentimentos, que tudo seja igual e que tenha o mesmo valor. Não faço mais questão de sentir dor, de sentir algo já quase sem sabor.

Quero novas sensações, provar daquilo que parece insensato saber daquilo que foi dito doloroso sentir se realmente há dor. Prefiro dormir até tarde, prefiro demorar nos meus atos, prefiro o incerto, o duvidoso. Prefiro gente que pense e aja como eu. Friamente bem pensado.


E no fim do dia, terminar intocado. Como se nada tivesse se passado.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Miopia Progressiva

"... - e, como numa quadrilha de dança de filme de faroeste, cada um teria de algum modo trocado de par e lugar. Em suma, eles se entendiam, os membros de sua família; e entendiam-se à sua custa. Fora de se entenderem à sua custa, desentendiam-se permanentemente, mas como nova forma de dançar quadrilha: mesmo quando se desentendiam, sentia que eles estavam submissos às regras de um jogo, como se tivessem concordado em se desentenderem.
[...]
    Por estranho que parecesse, foi exatamente por intermédio desse estado de permanente incerteza e por intermédio de prematura aceitação de que a a chave não está com ninguém - foi através disso tudo que ele foi crescendo normalmente, e vivendo em serena curiosidade. Paciente e curioso. Um pouco nervoso, diziam, referindo-se ao tique dos óculos. Mas "nervoso" era o nome que a família estava dando à instabilidade de julgamento da própria família. Outro nome que a instabilidade dos adultos lhe dava era o de "bem comportado", de "dócil". Dando assim um nome não ao que ele era, mas à necessidade variável dos momentos.
   Uma vez ou outra, na sua extraordinária calma de óculos, acontecia dentro dele algo brilhante e um pouco convulsivo como uma inspiração"


Felicidade Clandestina - Clarice Lispector

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bem-me-quer(o)

Era pouca estrutura em suas muitas certezas ou será que era ao contrário? Quando acordou sentiu-se capaz de firmar seus pés em uma corda bamba. Usava seu português (denominado por amigos como o "politicamente correto") para cumprimentar quem cruzava seu caminho, isso lhe surpreendia, não era algo que costumava fazer. Uma onda insegura de certezas rodeava seus pensamentos.

Parecia naquela manhã ter a absoluta certeza de tudo o que iria fazer e o fez com muita segurança. Sabia que precisava de mais dias como esses, em que tudo parecia dar certo, em que seu coração parecia estar certo e não mais quebradiço como na noite passada.

Não procurava ajuda. Hoje não seria necessário. O caso era sempre o mesmo e quase todos os dias resolvidos da mesma forma. Em suas prateleiras não faltavam barras de chocolate. O que antes lhe era angustiante, hoje era rotineiro e tranquilizador. O que machucava seu peito e perturbava seu sono, hoje lhe abria a mente. E a unica saudade que sentia naquele momento era de seu gato que havia fugido.

Encaixava-se nessa história, encaixava-se em sua vida. Nunca soube como e nem quando. só soube da falta que fez.

Pode o tempo passar e você até me odiar, mas, eu só sei bem me querer.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Rosa dos Ventos

Me preocuparia mais com o amor se soubesse que a dor era incessante. Nunca soube amar, compartilhar, sentir, demonstrar. Sempre entre as quatro paredes que me cercaram. A vida parece confortável olhada pelo lado de fora. Quando é vivida apenas pelas extremidades. O medo de se aprofundar em qualquer caso sempre me falou mais alto.

A cada minuto que passava a dor aumentava e diminuia, só o que podia explicar, era que estava confusa, novamente. Até aquela cor de cabelo meio sem graça lhe dava a impressão de alguma coisa estar errada. Não que realmente estivesse. Era apenas uma impressão, pra fazer passar o tempo. Pra poder ver os movimentos circulares dos 'tic-taques' do relógio serem uniformes.

E a cada nova rotação descobria continuar exatamente a mesma. Ainda ouvia os mesmos sons e não pretendia mudar de opinião. Queria continuar acentuando todas as palavras do dicionário na sua forma. Parecia mais divertido. Não queria viver numa progressão aritmética, talvez, união em seus conjuntos. Sabia que em um ponto remoto alguém esperava.
O evolucionismo em sua mente era crescente. Porém, as vezes não passavam de teorias.

"- Eu me preocuparia um pouco menos com tudo isso se fosse você. - alguém lhe dissera
- Eu tento. O problema, é que até agora não consegui."

Precisava naquele momento de um rosa dos ventos. Quem sabe assim, pudesse orientar-se.