Eu saí da cama, deixei teu lado arrumado
Eu saí do quarto, deixei a luz acesa
Eu saí da cozinha, deixei tua xícara na mesa
Eu saí de casa, deixei a chave na porta
Não foi a esperança de te ver voltando que me fez deixar o que era teu na forma que você mais gostava. Foi a memória que não me deixa lembrar o momento em que você tenha partido. Eu sequer consigo lembrar se você viveu comigo. Se algum dia a memória me recordar esse momento, não posso deixar de anotar.
Outro dia eu abri a janela e junto com o vento forte um pássaro resolveu entrar e vir morar comigo. Ele era tão frágil que tive medo de quebrar seus ossinhos com a força do amor que sentia por ele. Mas ele era tão especial que eu tinha medo de magoá-lo, de ferir seu coração tão pequenino. Quando ele acordava de mau-humor nem sequer olhava nos meus olhos para me dar bom dia, gritava de longe como se eu tivesse cometido um crime. Mal sabia o passarinho que meu crime maior era ter aprisionado aquele que havia nascido para ser livre.
Eu bagunço a cama e não faço mais questão de arrumá-la
Jamais esqueço qualquer luz acesa agora
Não sei o que aconteceu, mas uma xícara sumiu da minha prateleira
Chaveei a porta e tranquei todas as janelas,
eu não quero que o passarinho volte.
Confesso que me fez chorar.
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